Capítulo 4

(Al.)

Acho que não estamos a começar com o pé direito.

As nossas supostas guias estão a gozar connosco desde que nós sentamos ao pé do Miguel. Se calhar ele não estava a exagerar quando disse que era o soco de boxe dos palermas do futebol, até agora já atiraram, no mínimo, 15 bolas de papel para esta mesa.

O que terá ele feito?

Está a ser um bocado difícil controlar a Any, fica furiosa com este tipo de injustiças. A última vez que a vi assim foi quando uns idiotas estavam a maltratar um cão vadio no meio de um parque em que estávamos a passear... Digamos que este episódio acabou com ela no hospital e um dos indivíduos com um olho roxo. Foi fantástico! Tirando a parte do hospital...

            -Acho que é melhor irmos embora – disse Kika enquanto se levantava e vestia o seu casaco.

            -Sim, vamos. Mas... como vamos encontrar o nosso quarto? A Morgan, a Bell e a Lewis é que estavam encarregadas de nos levar lá.

            - Que quarto é? Talvez eu vos possa ajudar- sorriu Caetano ao responder-me.

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            -Eu levo-vos aos dormitórios femininos. Não vos posso levar à porta do quarto, não são permitidos rapazes na área feminina.

            -Melhor que nada. Pelo menos não vamos ter que falar com elas outra vez.- Comentou sorrindo Any.

Enquanto nos encaminhávamos para a área feminina, várias pessoas lançaram-nos olhares de escárnio e comecei a partilhar da opinião da Any e da Kika. Talvez a nossa vida no Colégio não seja fácil. Pelo menos nos primeiros tempos... Parece que os ingleses não são muito receptivos a novidades.

(Any)

-Eu sabia que isto não ia correr bem! Que bando de idiotas!

- Tens toda a razão, Anita –concordou a Kika comigo.- Também não estou a gostar muito disto.

Depois de nos despedirmos do Miguel, fomos procurar o quarto. Não foi difícil encontrá-lo, bastou subir um lance de escadas. É um dos últimos quartos do lado esquerdo do corredor.

O quarto parecia despido. Na parede em frente á porta, ficam as três camas lado a lado, intercaladas por três mesinhas de cabeceira. As colchas das camas são todas azuis com o símbolo do colégio ao centro. Na parede em frente ás camas encontram-se dois guarda-roupas e uma comeda com um grande espelho. Do lado direito às camas estão 3 secretárias e em frente destas está localizada uma lareira com três sofás á frente. No meio do quarto encontra-se um tapete felpudo, enorme, azul e redondo com o símbolo do colégio.

Em cima das camas estavam pousados os nossos uniformes: duas saias, uma azul-escuro e outra vermelha com quadrados azuis, dois vestidos, um azul e outro vermelho, duas gravatas da cor dos vestidos, dois coletes azuis escuro, dois pólos, um azul e outro vermelho e um casaco azul-escuro.

            - Não acredito que nos vão obrigar a usar isto! Bom, pelo menos vou poder usar as minhas all- stars! – Reclamei enquanto segurava a saia.

            - Ai meu Deus! – Comentou a Kika com cara de nojo enquanto pegava num dos pólos. –Não se preocupem, com algumas alterações vamos ficar minimamente apresentáveis.

            - Não sei se são permitidas alterações Kika – A Al gosta mesmo de ser desmancha prazeres...que mania!

Começamos a desfazer as malas. Depois de pousar a minha guitarra e o amplificador ao pé da minha cama, encostados á parede, e de arrumar as minhas coisas, fui ajudar a Kika a arrumar os seus vestidos, alguns desenhados por ela. No último verão participou num concurso de mini estilistas, no qual ficou em primeiro lugar. Ela tem mesmo jeito para a coisa!

Eu e ela em Portugal, andávamos num atliet de artes, mas enquanto eu prefiro fazer banda desenhada, a Kika adora desenhar roupa.

Quando já estávamos quase a acabar de arrumar tudo, a voz do director soou nos altifalantes da escola colocados em todos os corredores:

            -Reunião com todos os alunos na sala de convívio dentro de cinco minutos.

            -Alguém sabe o caminho para a sala de convívio? – Dirigi-me para a porta – eu já não me lembro...

            -Basta seguirmos a multidão – respondeu-me prática Kika enquanto abria a porta e via uma multidão de raparigas a saírem dos quartos.

Seguimos a maré até a sala de convívio. É uma sala ampla, com muitas mesas e sofás, com vários jogos, uma televisão, uma PS3 e uma uma Wii, onde os alunos se podiam divertir.

(Kika)

Passado pouco tempo apareceu o director, pegou no microfone e virou-se para nós

            -Como todos já sabem é tradição do colégio, antes do início do ano lectivo, ocorrer um baile. O baile este ano, vai-se realizar de hoje a dois dias, ou seja, na noite anterior ao começo das aulas. Começa às 20 h e irá realizar-se no ginásio – Fez uma pausa e olhando para nós com um pequeno sorriso continuou– Mas este ano temos uma novidade! Será obrigatório comparecer ao baile com um par que terá de ser, outro aluno do colégio. Espero que se divirtam!

Por toda a sala ouvi gritos estéricos de miúdas entusiasmadissimas e resmungos de todos os rapazes presentes. Vão ser dois dias de loucos até ao baile! Por um lado raparigas a prepararem-se, a escolherem o vestido, os sapatos, o fio, a pulseira, a rezar para que o seu rapaz especial as convide. E por outro lado, rapaz a desesperar porque não sabem quem devem convidar ou então, com medo de o fazer pois á sempre a possibilidade de serem rejeitados.

Não estou a gostar nada disto, só podem estar a gozar comigo! Daqui a dois dias e só dizem agora? Podiam ter avisado antes, mandado uma carta, um mail, sei lá! É o meu primeiro ano aqui como é que ele acha que eu iria saber disto antes? Acho que a Any ainda vai gostar menos disto do que eu...

            - Só faltava mais isto! Um baile! Eu detesto bailes! – Resmungou ela furiosa - como é que ele acha que vamos arranjar par e vestido em tão pouco tempo?

            -Vestido é o menos! O problema é mesmo o par, não conhecemos ninguém, a não ser o Miguel– respondi-lhe.

            -Onde está a Al? – Perguntou-me a Any enquanto olhava à nossa volta.

            - Ela estava aqui ainda agora! – Também olhei em redor e não vi a Alice em lado nenhum. Não pode ter desaparecido, em algum lado tem que estar! O problema vai ser procura-la ainda não conhecemos bem a escola. Hoje definitivamente não é o meu dia de sorte!

Senti alguém tocar-me no ombro, quando olhei para trás vi que tinha sido um rapaz loiro de olhos verdes, lindíssimo!

            -Desculpem, mas não pude deixar de ouvir a vossa conversa. São novas no colégio, certo? –Disse-nos estendendo a mão e sorrindo – Sou o James Carter, prazer.

            - Sou a Francisca Vasconcelos e está é a minha prima Anita Castro – Apresentei-nos –chegamos hoje de Portugal. Este é o nosso primeiro ano aqui.

             Este é o David Price – Disse James puxando um rapaz de cabelo loiro esticado, com uma franja que lhe caía sobre os olhos azuis usando alargadores nas orelhas, de trás de si – Eu sei que ainda não nos conhecemos mas nós também não temos par, nem intenções de convidar nenhuma rapariga que conhecemos por isso se fossemos juntos resolveríamos quatro problemas.

Belisquei a Any para se manter calada, se bem a conheço ela iria responder negativamente e iríamos perder a nossa única oportunidade de ir ao baile e de nos começarmos a relacionar com os outros estudantes.

            -Sim, claro! Será um prazer. – Enquanto cumprimentavamos o David, não pude deixar de notar, no sorriso trocado entre os dois rapazes, eram realmente bonitos. Acho que nos vamos divertir no baile.

Ficou decidido que eu iria com o James e a Any com o David. Apesar de Any estar reticente no início, afinal não os conhecíamos a ela preferiria mil vezes mais ficar no quarto a tocar ou a desenhar do que ir a um baile, depois de conversarmos com eles de termos descoberto que o David toca guitarra a Any começou a gostar mais da ideia.

Agora só falta arranjaram par para a Al., mas para isso é necessário encontra-la antes. Decidimos começar pelo único lugar do qual ainda nos lembravamos da localização, ou seja, o nosso quarto.

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